quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Flanelinha inova e leva até máquina de crédito e débito para rua.


“É sim, de verdade, nada de subterfúgio”, repete Fábio Santana, 31, a quem o vê andar com uma máquina de cartão de crédito e débito pendurada no ombro.  A frase é de efeito, até porque o equipamento está visivelmente quebrado.
“Mas a GPS tá chegando aí”, esclarece logo, se referindo à máquina que diz usar à tarde e que, afirma, funciona muito bem: o flanelinha garante que já chegaram a passar R$ 100 pelos serviços que oferece na sinaleira, entre a avenida Jorge Amado e a Rua das Araras, no Imbuí.
A tal GPS seu irmão, Ângelo, usa numa loja no Caboatã Shopping, onde trabalha. “Quando ele precisa usar, ele me chama”, explica.Mas, não se tem notícia de um irmão tão brother: nem ele nem a máquina apareceram enquanto o CORREIO fazia a reportagem.
A história lembra a da personagem Adelaide, do metrô do Zorra Total (Globo/TV Bahia), que pede esmola com máquina de cartão. Fábio, porém, diz que a inspiração é outra. “Quem deu a ideia foi minha mulher. Ela viu no YouTube um vídeo de um mendigo que pedia esmola no cartão de crédito. Ela me disse: ‘Já pensou se você tivesse uma máquina de cartão, como ia facilitar?’”.
A materialização do plano mirabolante parece (ou é) roteiro de ficção: ao ver Xanddy, do Harmonia do Samba, parar no sinal vermelho, Fábio implorou pela máquina de um colega vendedor de amendoim. “Ele passou R$ 50 e me deu quatro tíquetes-alimentação”, garante.
A foto com Xanddy ainda não está no álbum do Facebook. “Mas eu vou colocar”, afirma. Para impressionar ainda mais, após enumerar os clientes estrelados, ele põe a mão na cabeça ao ver um utilitário preto que passa rápido pelo sinal aberto: “Ih, era Edilson! Se eu soubesse que era ele…”, lamenta, sobre um dos seus fregueses famosos, o ex-atacante Edilson Capetinha. Em seguida, anuncia com firmeza: “Se tudo der certo, Pablo (do Arrocha) tá passando daqui a pouco”, diz.
E, se sucesso atrai sucesso, Fábio também faz questão de destacar como é conhecido por aquelas bandas. “Tô estourado! Tenho cinco perfis no Orkut e um no Face”, orgulha-se. De fato, um flagra  seu já possui mais de 3 mil compartilhamentos no Facebook.
A fama lhe trouxe vantagens: “Todo mundo me conhece e não só os motoristas de carro pequeno, não”, afirma ele, que mora com a mulher e os quatro filhos na Boca do Rio. Os pimpolhos também atraem os clientes. “Trouxe eles para brincar aqui um dia e o povo ficou doido. Tem muitos que me dão cesta básica”, conta.
A ajuda complementa a renda conseguida no semáforo. “Tiro em média uns R$ 30 por dia. Botei cerâmica na casa toda e pago o colégio de três dos meninos”, relata Fábio, que trabalha ali de segunda a sábado. Nas poucas horas vagas, ainda trabalha como garçom e “designer e arte-finalista”, como se autodenomina, com pompa. “Faço cartão de visitas”, diz.
Empreendedor, com o dinheiro que ganha, sonha em montar uma barraca de churrasco em um ponto de ônibus. Entre seus sonhos e a realidade, um detalhe tragicômico. Enquanto conversava com o CORREIO, levaram a sacola de Fábio, com o único cartão de crédito que dizia ter. “Não tem problema”, ele disse, sem se importar. Esse Fábio é mesmo a cara da riqueza.

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