O Facebook bloqueou a conta de manifestantes da Marcha das Vadias após elas terem publicado na rede social fotos em que apareciam com os seios à mostra.
A marcha, que ocorreu neste sábado (26) em algumas cidades brasileiras, pretende chamar a atenção para os diversos tipos de violência sofridos pelas mulheres.
Pelo menos duas manifestantes em São Paulo e uma no Rio tiveram seus perfis bloqueados e ficaram impossibilitadas de interagir na rede social temporariamente, segundo uma usuária que foi censurada. Era possível entrar no Facebook, mas não compartilhar nenhum tipo de conteúdo no site.
Procurada, a empresa não quis se pronunciar. A assessoria de imprensa disse que o Facebook não se manifesta sobre casos específicos.
A militante do movimento feminista Luka Franca, 26, teve seu perfil bloqueado por 24 horas após publicar uma foto sua, ao lado de sua filha, de 3 anos, com os seios descobertos.
| Cecília Santos/Arquivo pessoal | |
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Luka Franca (à dir.), 26, teve seu perfil no Facebook bloqueado após a publicação desta foto na rede social
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"Eu coloquei a foto no domingo à tarde. Quando entrei no Facebook no dia seguinte, pela manhã, meu perfil estava bloqueado", diz Franca. "Eu podia apenas entrar no bate-papo e aprovar pedidos de amizade. Só percebi quando fui 'curtir' o que um amigo tinha publicado".
Segundo Luka, a foto havia sido publicada em um álbum privado.
CRITÉRIO SUBJETIVO
Para a foto ter sido excluída --e a usuária, bloqueada--, pelo menos um usuário denunciou a publicação das fotos no site. Para definir o que pode ou não ser considerado pornográfico ou nudez, cada caso é avaliado separadamente.
Na mesma página, a rede social diz que "se você encontrar algo no Facebook que considerar uma violação aos nossos termos, informe-nos". Apesar do pedido, há a ressalva que "denunciar um conteúdo não garante que ele será removido do site".
PUNIÇÃO NA REDE
Quando bloqueado, um usuário fica impedido de acessar diversas funções do site temporariamente, como publicar, compartilhar ou "curtir" uma publicação ou um compartilhamento feito por terceiros. Caso o perfil seja reincidente por mais duas vezes, a conta é desativada.
"É tipo um colégio marista", diz a militante. "Se você tomar três suspensões, na terceira você é expulsa."
Ela diz que, como forma de protesto, um amigo compartilhou a mesma foto na rede social. "Ela [a foto] ficou quase o dia todo no ar, mas depois foi removida", diz. "Ele não foi bloqueado, só retiraram a foto do perfil dele. Eu e a Paula Lion [outra usuária que teve o mesmo problema] ficamos 24 horas bloqueadas".
Marcha das Vadias
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Manifestantes exibem cartazes durante a Marcha das Vadias, na avenida Paulista, em São Paulo
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A Folha não conseguiu entrar em contato com as outras duas mulheres bloqueadas pelo Facebook, mas há relatos na web de casos semelhantes em outras cidades.
Sua filha Tarsila diz que a mãe foi bloqueada "porque foi denunciada a foto que ela fez sobre a marcha das vadias", e que foram retiradas "somente as fotos que as mulheres com seios de fora estavam em conflito com a polícia".
Na postagem que denuncia a retirada das fotos, tarjas pretas foram colocadas sobre os seios à mostra. Segundo a militante, "de outra maneira, as fotos aqui também poderiam ser retiradas do Facebook sem aviso prévio".
| Reprodução | |
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Publicação que reclama da postura do Facebook; crítica foi feita na própria rede social, na página oficial da marcha em BH
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MARCHA DAS VADIAS
A mobilização, que aconteceu no último sábado em cidades brasileiras como São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Brasília,
reuniu cerca de 500 manifestantes em São Paulo. Os manifestantes saíram da praça do Ciclista, na avenida Paulista, rumo à praça da República, no centro.
Os participantes pintaram o corpo, vestiram acessórios e prepararam cartazes para participar da marcha. Nos dizeres, frases em defesa das mulheres como "meu corpo, minhas regras" e "meia arrastão não justifica estupro".
Homens também se engajam na passeata. Um dos manifestantes levava um cartaz escrito "mulher não se estupra, se conquista".
MOVIMENTO MUNDIAL
O intuito do protesto é chamar a atenção aos diversos tipos de violência sofridos cotidianamente pelas mulheres, seja verbal, física ou sexual --como assédio nas ruas, violência psicológica, ameaças, espancamentos, estupros e assassinatos.
A primeira Marcha das Vadias ("Slut Walk", em inglês) foi organizada em 2011, no Canadá. Estudantes da Universidade de Toronto foram às ruas protestar após um um policial dizer que mulheres que não quisessem ser estupradas deveriam evitar vestir-se como vadias.